segunda-feira, 27 de julho de 2015

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO BRASIL: CONCEITOS E EVOLUÇÃO

Autora:Profa. Ms. Railde da Glória Fernandes

RESUMO
A educação a distância é uma modalidade de educação onde professores e alunos estão separados no tempo e no espaço, é uma forma de educação mediada pelas tecnologias da informação. O objetivo deste trabalho é analisar a trajetória da educação à distância no Brasil, buscando seus conceitos, características e definições, bem como sua evolução na história da educação brasileira. A metodologia de trabalho utilizada neste artigo foi a revisão de literatura, através da leitura e do diálogo com teóricos e estudiosos da EAD foi possível traçar um panorama de seu desenvolvimento no Brasil. A EAD no Brasil foi marcada por avanços e retrocessos e teve como base de iniciação a preocupação em democratizar o acesso ao conhecimento. Como esta modalidade de conhecimento evolui acompanhando a evolução das tecnologias de comunicação, o Brasil vem se aperfeiçoando e dando possibilidade de formação a pessoas de diversas localidades do país que antes se encontravam limitadas pela distância dos grandes centros de formação.

INTRODUÇÃO

            O tema educação em suas mais diversas variáveis é estudado e analisado exaustivamente nos dias de hoje. Cada pesquisa feita, cada assunto novo, é de grande importância para o desenvolvimento e melhoramento da educação no nosso país. Um país tão grande e diverso como o Brasil precisa de uma educação voltada para a diversidade e valorização dos cidadãos. A educação é um poderoso elemento de transformação social, ela permite que uma criança cresça e aprenda não só a somar números e formar palavras, mas também a se socializar e a se inserir na história  que já está em andamento.
            No século XXI o mundo vive um processo social onde a tecnologia tem se destacado e por isso a formação das pessoas tem se tornado essencial para participar da sociedade e no mundo do trabalho, além da importância de acompanhar os avanços tecnológicos com a rapidez que eles acontecem. Nesse contexto a educação à distância se destacada como uma modalidade de educação que acompanha as mudanças sociais e os avanços tecnológicos. A educação a distância recebe esse nome devido ao fato de que professores e alunos se situam durante todo o processo em espaços e até mesmo em tempos diferentes.
            Ao longo dos anos a EAD vem ganhando espaço, e é considerada uma das modalidades de ensino mais democráticas, pois tem a capacidade de atingir um número muito grande de pessoas em vários lugares diferentes.  O objetivo desse artigo é analisar a educação à distância no que tange aos seus conceitos, características e sua evolução no contexto educacional brasileiro. A revisão de literatura foi escolhida como metodologia porque através dela é possível trazer para a discussão vários teóricos do assunto e fazer uma análise consistente do tema.
            No Brasil a EAD vem crescendo e se tornando uma das modalidades de ensino mais procuradas, sobretudo por aqueles que buscam uma melhoria profissional e procuram uma modalidade de aprendizagem que se encaixe na rotina corrida do dia a dia. Por isso faz-se importante estudar a educação à distância buscando aprofundar os conhecimentos nessa modalidade e buscar alternativas de melhoramento beneficiando não só os alunos, como os níveis de educação do nosso país.

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS

            No século XX, de forma mais expressiva na sua segunda metade a educação a distância começou a se tornar uma realidade, a maioria dos estudos localiza o surgimento da EAD na Inglaterra e nos Estados Unidos, posteriormente essa modalidade se espalhou para vários lugares do mundo, inclusive para o Brasil. Cada época criou suas formas de educar a distância de acordo com os recursos existentes como: correspondência, rádio, televisão e mais recentemente a internet. O século XXI marca então o crescimento dos cursos a distância, facilitado pelo desenvolvimento tecnológico.  De acordo com Saraiva:
Na passagem para o terceiro milênio, que abre o pano com o século XXI, o mundo está iniciando uma demanda sem precedentes por uma educação inicial e continuada, que, ao mesmo tempo, fascina e desafia os sistemas educacionais. Nesse cenário, a EAD desponta como modalidade do futuro, provavelmente vivendo novas etapas, com ênfase na integração de meios, em busca da melhor e maior interatividade. (SARAIVA, 1996, p.27)

            Com o aumento da demanda, do aperfeiçoamento e da quantidade de cursos a distância, os pesquisadores começaram a investigar esta modalidade de educação, de forma simples a EAD pode ser definida como uma modalidade de ensino e aprendizagem em que professores e alunos se encontram separadas no tempo e no espaço. Mas para que essa forma de ensinar e aprender tenha êxito é preciso que haja meios que promovam a comunicação e a interação de alunos e profissionais. Essa definição de EAD é feita por Moore e Kearsley:

O ensino a distância é o tipo de método de instrução em que as condutas docentes acontecem à parte das discentes, de tal maneira que a comunicação entre professor e o aluno se possa realizar mediante textos, por meios eletrônicos, mecânicos ou por outras técnicas. (MOORE, KEARSLEU, apud, MUGNOL, p.341, 2009)

            A distância existente entre o professor e o aluno precisar ser superada para que a formação seja completa e eficaz, portanto, a educação a distância se faz através da mediação de instrumentos de aprendizagem, que permitem que os alunos tenham acesso aos conteúdos estudados, interajam com os professores e tutores e com os colegas de curso. Portanto, para que haja uma educação a distância é preciso de elementos mediadores que diminuam as distâncias entre os agentes envolvidos. Nesse aspecto a educação a distância se difere de forma radical da educação presencial, pois no modo presencial a interação entre professores e alunos se dá no mesmo espaço e tempo, assim muitas vezes a metodologia de trabalho do professor pode ser apenas a oralidade. A EAD inova quando se utiliza de materiais diferenciados para proporcionar a formação dos alunos. Segundo Guaranezi:

Os conceitos de EAD mantêm em comum a separação física entre o professor e o aluno, e a existência de tecnologias para mediar a comunicação e o processo de ensino aprendizagem. A evolução do conceito se dá no que se refere aos processos de comunicação, pois cada vez mais, passa a possuir maiores possibilidades tecnológicas para efetivar a interação entre os pares para a aprendizagem. (GUARANEZI, 2009, p.20)

                        A separação entre professores e alunos se torna então uma característica fundamental para se conceituar a EAD, mas à medida que novas tecnologias são acrescentadas como forma de mediação do processo o conceito vai evoluindo. Para Mugnol:

O desenvolvimento das telecomunicações com meios interativos, a relativa popularização do computador e da internet, proporcionaram novas perspectivas se constituindo em ferramentas importantes para a contínua evolução da EAD, sobretudo após a segunda metade do século XX. (MUGNOL, 2009, p. 338)

            Um dos pontos mais importantes ainda a ser superado e aperfeiçoado na educação a distância é a interação entre os professores e alunos e entre alunos e seus colegas. Nesse ínterim a tecnologia vem contribuindo de forma eficaz, pois cada vez mais se torna mais fácil interagir com pessoas de diversos lugares diferentes. Nos cursos a distância utiliza-se de métodos de interação como chats, vídeo aulas, vídeo conferências e conversas ao vivo pela internet. Essa interação é fundamental para a efetivação da aprendizagem visto que o diálogo no processo educacional é importante para enriquecer os debates.
            A referência de educação mais forte é a educação presencial, nesta modalidade os professores planejam suas aulas através de inúmeros recursos de acordo com a criatividade e perfil de cada um, encontram-se com os alunos em horários e locais predeterminados, e neste processo acontece o processo ensino aprendizagem. A figura do professor em frente à turma é ainda forte nos dias de hoje e se destaca mais aqueles que conseguem pensar frequentemente em novas metodologias para chamar a atenção dos alunos e fortalecer o ensino. Entendemos então que as características da educação presencial envolvem a presença de um professor com uma aula pré-preparada, alunos a espera do conhecimento e uma estrutura física para que todos estejam no mesmo espaço. Na educação a distância como vimos, a separação física entre professores e alunos é uma característica fundamental, um dos maiores teóricos da educação a distância, Desmond Keegan nos apresenta outras características fundamentais para se entender a EAD (KEEGAN, apud, MUGNOL, 2009, p. 340):
·         A EAD sofre a influencia de uma organização educacional no planejamento, preparação no material de ensino e na provisão de serviços de suporte aos alunos.
·         Utilização da mídia – impressos, áudio, vídeo ou computador – para mediar ações educativas entre professores e alunos no desenvolvimento do curso;
·         Comunicação bidirecional, de forma que o aluno pode se beneficiar de um dialogo mais estreito com o professor.
·         Quase permanente ausência de grupos de aprendizagem presenciais, com a possibilidade de encontros, face a face oi através de meios eletrônicos, sendo os estudos individuais responsáveis por completar as necessidades de socialização.
            Enquanto educação presencial os cursos são abertos podendo ser planejados ao longo do tempo e o professor é muitas vezes a figura central responsável pelo planejamento, a EAD necessita de uma equipe capacitada para o planejamento do curso, que deve já começar planejado e organizado do início ao fim.

A educação a distância depende para seu êxito além de sistemas e de programas bem definidos de recursos humanos capacitados, material didático adequado e, fundamentalmente, de meios apropriados de levar o ensinamento desde os centros de produção até o aluno, devendo existir instrumentos de apoio para a orientação aos estudantes através de polos regionais. (ALVES, p. 55)

            A interdisciplinaridade é uma característica dessa modalidade, pois envolve profissionais de várias áreas, no planejamento do curso, no planejamento das disciplinas, na preparação do material didático e nos serviços de atendimento aos alunos. Temos então, professores, gestores, administradores, tutores e técnicos de informática fazendo parte da execução de um curso à distância.
            A figura central do aluno do processo de aprendizagem é uma das características importantes e diferenciadoras da EAD, de acordo com Landin, “o sistema a distância implica estudar por si mesmo, mas o aluno não está só, vale-se de um curso e de interação com instrutores e com a organização de apoio. Produz-se assim uma espécie de dialogo em forma de mão dupla.” (LANDIN, 1997, p. 14) Embora o aluno não conviva com o professor e nem com os colegas face a face, através dos meios de interação ele pode se comunicar, debater assuntos, tirar dúvidas e com isso potencializar sua aprendizagem. Os alunos possuem maiores responsabilidades sobre a sua formação, então eles precisam ter consciência do seu papel, precisam ter maturidade intelectual, disciplina para fazer seus estudos individuais e cumprir as atividades propostas em tempo hábil. “A metodologia aplicada na EAD prima pela conscientização dos alunos sobre seu papel no resultado das atividades acadêmicas para o seu aprendizado.” (MUGNOL, 2009, p. 340) Em sua grande maioria os alunos da educação a distância são adultos, pois possuem mais maturidade, responsabilidade, comprometimento e compromisso com sua formação, preenchendo os requistos para uma aprendizagem de sucesso.

EVOLUÇÃO DA EAD NO BRASIL

            Historicamente o Brasil é um país que possui grandes dificuldades quando se fala em educação, não só pela qualidade da educação oferecida, mas pela dificuldade de acesso da população. Nos últimos anos o país tem buscado formas de aumentar o nível de escolaridade da população, ou seja, democratizar o acesso a educação básica, profissional e superior. De acordo com Alonso a EAD no Brasil tem em sua base a ideia de democratização e facilitação do acesso à escola. (ALONSO, p.55) A educação a distância no Brasil é uma modalidade que contribuiu para a melhoria de vida das pessoas. As primeiras iniciativas de EAD no Brasil foram feitas através de cursos de correspondência, no início do século XX, a correspondência era a melhor forma de comunicação e pessoas de lugares diversos.

A forma inicial de oferta dos cursos a distância era a correspondência e tinha como finalidade ampliar a oferta de oportunidades educacionais, permitindo quer as camadas sociais menos privilegiadas economicamente pudessem participar do sistema formal de ensino, sobretudo da educação básica, uma vez que as preocupações iniciais da EAD estavam focadas neste nível de ensino e em cursos preparatórios para o trabalho. (MUGNOL, 2009, p. 337)

            A educação por correspondência faz parte da primeira geração da educação a distância no Brasil, o seu exemplo mais significativo foi o Instituto Universal Brasileiro, sediado em São Paulo e com filiais no Rio de Janeiro e Brasília, era uma entidade de ensino livre, que oferecia cursos por correspondência e foi fundada em 1941. O Brasil se beneficia nesse aspecto das iniciativas dos modelos de cursos por correspondência que já existiam na Inglaterra e nos Estados Unidos. A Universidade Aberta de Londres é um marco na historia da educação a distância, serviu de base para cursos posteriores em diversos países. Os cursos por correspondência aconteciam através de materiais impressos que os alunos recebiam em suas casas, havia pouca possibilidade de interação entre os alunos e a instituição produtora, os alunos iam ao polo apenas para fazer as avaliações, em casa eles estudavam o material impresso e faziam exercícios de fixação.
            A partir da década de 1960 os teóricos da EAD identificam sua segunda fase, nesse momento o rádio e a televisão começam a ser usados como mediadores do conhecimento. Segundo Faria a evolução da EAD acompanha a evolução das tecnologias de comunicação. (FARIA, SALVADOR, p. 16) A partir do momento em que a população passa a ter mais acesso aos equipamentos de rádio e televisão estes se tornam recursos importantes para a educação, no Brasil essas mídias tiveram bastante simpatia da população. A iniciativa educacional via rádio de maior destaque no Brasil foi o Projeto Minerva, um convênio entre o Ministério da Educação, a Fundação Padre Landell e a Fundação Padre Anchieta, cuja meta era a utilização do rádio para a educação e a inclusão social de adultos. (FARIA, SALVADOR, p. 18) A preocupação com a educação formal ou informal dos adultos impulsionaram projetos educacionais a distância para facilitar o acesso das pessoas a uma formação básica que desse condições de participar melhor da vida social.
            A televisão é um elemento de grande importância na sociedade brasileira, está presente na maioria das casas e prende a atenção das pessoas à sua programação, dessa forma ela foi usada também como mediação entre o aluno e o conhecimento.

A partir do final da década de 1960, a televisão ampliou a comunicação, e a transformou, consolidando meios audiovisuais. Foram varias as iniciativas governamentais para criar emissoras e redes de televisão educativas, destinando-se as redes comerciais apenas um percentual de sua programação para eventos de alcance educativo. Os programas Telecurso de Primeiro e Segundo Grau formaram brasileiros em todas as regiões que recebiam a sua transmissão, propiciando que a educação a distância não formal resgatasse a autoestima de brasileiros e os qualificasse para novos projetos educacionais e profissionais. (MUGNOL, 2009, p347)

            A década de 1990 inicia a terceira fase da educação a distância e tem uma importância fundamental pois insere a informática e a internet como ferramenta educacional, caracteriza-se pela integração de redes de conferência por computador e estações de trabalho multimídia.

O surgimento do computador como meio mais rápido para transportar a palavra escrita mudou não só o veiculo de distribuição de ensino, mas a forma de mediação. A multimídia, que trabalha com as múltiplas linguagens (sonora, audiovisual, e iconográfica), amplia as possibilidades de ensino e aprendizagem e pode, desde que adequadamente projetada, atender a uma demanda social por educação. (MUGNOL, 2009. P. 346)

            A internet é atualmente a principal ferramenta de mediação dos cursos a distância, pode se dizer que as distâncias já não existem mais, uma vez que os alunos e professores podem estar conectados em tempo real e potencializar o processo de ensino e aprendizagem. Com o avanço da tecnologia da informação e comunicação as salas virtuais foram inseridas na educação a distância facilitando o acesso dos alunos a materiais diversos, impressos, vídeos, aplicativos, fóruns, chats, enfim, as ferramentas utilizadas na EAD são diversificadas. O uso da internet proporcionou uma abrangência muito maior dos cursos a distância, pessoas nos lugares mais longínquos do país podem estudar através de um computador conectado a internet. A diversidade de métodos de ensino das salas virtuais proporcionou também uma possibilidade muito maior de atender à diversidade dos alunos, fazendo com que a especificidade de aprendizagem de cada um seja levada em conta no momento do planejamento dos cursos.

A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NA LEGISLAÇÃO

            A educação a distância é a modalidade de educação que mais cresce no Brasil na atualidade, como já foi dito a facilidade de acesso ao conhecimento e o alcance dela são elementos fundamentais para o sucesso e a procura por esta forma de educação. Os adultos trabalhadores são os que mais se beneficiam, pois na busca por melhorias de vida eles tem que usar o tempo que sobra da correria do dia a dia que envolve trabalho, família e as responsabilidades da vida adulta. O crescimento da EAD despertou o interesse dos pesquisadores além de exigir um posicionamento e uma regulação maior por parte do Estado, portanto, a legislação visa então responder à exigência de expansão desta modalidade de ensino.
            A partir da Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação para todos os níveis de ensino (LDB), o ensino a distância, de acordo com o parágrafo 4º, do inciso IV, do artigo 32, é definido como uma modalidade empregada na “complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais”, esta disposição se refere ao ensino básico no nível fundamental. O inciso 2, do artigo 87, determina que cada município deve ser responsável por “prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e adultos insuficientemente escolarizados.” Esta determinação tem uma importância fundamental no que diz respeito à democratização do acesso a escola aos jovens e adultos, uma vez que a  nesse período etário a formação é escolar é importância para propiciar também uma melhor preparação para o mercado de trabalho.
            O artigo 80 da LDB 9394/94 estabelece que “o poder público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação continuada” (BRASIL, 1996). O Plano Nacional de Educação, exigido pela LDB e que passou a vigorar em janeiro de 2001, com a aprovação da Lei 10.172/01, no capítulo que aborda a educação a distância e as Tecnologias Educacionais, refere-se a essa modalidade de ensino “como um meio auxiliar de indiscutível eficácia” para enfrentar “os déficits educativos e as desigualdades regionais”. (MUGNOL, 2009, p.345)
            O Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005, em seu artigo primeiro caracteriza a EAD como “modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. ” (BRASIL, 2005)  Esse decreto fortaleceu o reconhecimento no sistema oficial de ensino dos cursos ofertados na modalidade por Instituições credenciadas pelo MEC. Com isso o processo de produção e conhecimentos relacionados a EAD se expande e novos cursos começam a ser pensados, planejados e executados, de início a modalidade visa atender as necessidades de formação de professores da educação básica e da educação superior.  

CONCLUSÃO

            A educação a distância é uma modalidade de educação muito importante para o desenvolvimento do Brasil, sua capacidade de atingir um número de pessoas muito grande permitiu e continua permitindo que o país avance em seus níveis educacionais. Desde o ensino por correspondência, passando pelo rádio, pela televisão e até chegar à internet a educação a distância permitiu que muitos brasileiros tivessem acesso a uma educação de qualidade, o que contribuiu de forma eficiente para a melhoria de vida das pessoas.
            As iniciativas privadas e governamentais ampliaram o número de cursos a distância, o que fortaleceu esta modalidade no país, apesar de todo o avanço a educação a distância tem muito que evoluir e melhorar. O Ministério da Educação através da legislação vem regulamento o ensino à distância visando à melhoria da qualidade dos cursos e dando apoio a novas iniciativas e inovações nas instituições promotoras.
            Em se tratando do Brasil e de suas questões históricas relacionadas à educação o país abraçou a EAD como um elemento fundamental para a democratização do conhecimento e do acesso à educação em vários níveis. A educação é um elemento de fundamental importância para o desenvolvimento do país e da melhoria das condições sociais e culturais da população. A vontade de superar as dificuldades educacionais aliadas à tecnologia está permitindo mudanças significativas no contexto da educação nacional, novos profissionais estão tendo oportunidades únicas de aperfeiçoamento em seus campos de atuação. A educação a distância contribui então para a construção e o fortalecimento de uma sociedade mais justa e igualitária.
           
REFERÊNCIAS:
ALONSO, K. M . Educação a distância no Brasil: a busca da identidade. Disponível em: http: //www.nead.uftm.br/índex.asp?pg=7. Acesso em 10 de julho de 2015.

ALVES, T. R . Educação a distância e as novas tecnologias de Informação e aprendizagem. Disponível em: http://www.clam.org.br/bibliotecadigital/uploads/publicacoes/186_609_alvesjoaoroberto.pdf

BRASIL, Decreto nº 5622 de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5622.htm. Acesso em: 16 de julho de 2015.

BRASIL. Leis e Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei 9.394/96, 20 dez. 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, ano 134, n. 248, p. 27833-27841, dez. 2005. Disponível em: . Acesso em: 12 de julho de 2015.

FARIA, A. A. SALVADOR, A. A educação a distância e seu movimento histórico no Brasil. Revista das Faculdades Santa Cruz, v.8, n.1, janeiro/junho, 2010.

GUAREZI, R. C. M. Educação a distância sem segredos. Curitiba: Ibpex, 2009.

LANDIN, C. M . Educação a distância: algumas considerações. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 1997.

MUGNOL, M. A educação a distância no Brasil: conceitos e fundamentos. Revista Diálogo Educação, Curitiba, v.9, n.27, maio/agosto, 2009.

SARAIVA, T. Educação a distância no Brasil: lições da História. Em Aberto, Brasília, ano 16, n.70, abril/junho,

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Cinquenta tons de submissão


Costumo ser bastante curiosa, então quando começaram a aparecer na internet vários comentários sobre um tal livro classificado como “literatura erótica para mulheres”, fiquei curiosa para saber do que se tratava. Consegui uma cópia do “Cinquenta tons de cinza” e comecei a leitura, afinal quando não estou trabalhando em minha dissertação de mestrado prefiro ler coisas mais... Fáceis.  Na verdade se trata de uma trilogia, da autora britânica Erika Leonard James, que nasceu na internet, como uma fan fiction da saga dos vampiros. Conforme indica o nome, fan fictions são tramas escritas por fãs que, inspirados em obras de sucesso, se aventuram a desenvolver suas próprias histórias. O “Cinqüenta tons de cinza” é seguido por “Cinquenta tons mais escuros” e “Cinquenta tons de liberdade”, e narra a história de Christian Grey e Anastácia Steele, ele é um multimilionário cheio de sombras escuras em sua história de vida, como o título já indica, e ela é uma estudante de literatura inglesa recém formada. Anastácia conhece Christian em uma entrevista feita para o jornal da universidade, na entrevista ela substituía uma amiga que ficou doente e não pôde comparecer. A partir daí a autora narra o envolvimento do casal. De início Steele é cotada para ser mais uma submissa em uma relação sadomasoquista, mas com seu jeito tímido e desengonçado conquista Grey. Enfim...quem quiser saber mais da história, leia o livro.
O que me importa aqui são as minhas considerações, esse livro já obteve 47 milhões de cópias vendidas em alguns meses. A história na minha opinião é fraca, não possui grandes detalhes, nem grandes acontecimentos, parece apenas um pano de fundo para narrar as relações sexuais cheias de posições e objetos estranhos. As cenas de sexo são narradas de forma interminável chegando a serem chatas em muitos casos. A escrita é mais simples que uma receita de bolo, não exigindo grande esforço de compreensão por parte do leitor.
Christian Grey é um homem controlador que quer ter sempre o poder em suas mãos, sente prazer em dominar e açoitar mulheres que devem assinar um contrato prévio, que dê permissão para que ele o faça. Mas a grande jogada da autora para amenizar essa situação violenta, é que no contrato também consta que a “sub” será sustentada por ele em todos os âmbitos da sua vida, usufruindo dos luxos de uma vida com um milionário.
Anastácia é uma jovem independente que busca uma carreira profissional, mas à medida que se envolve com Christian se vê diante de um homem que quer controlar todos os seus passos. Mas a autora ameniza essa questão definindo Grey como uma vítima, que faz aquilo como reflexo de sua história triste. O que mais me chama a atenção é que o tempo todo Anastácia tenta aliar seu trabalho, sua independência e sua vida profissional ao amor de um homem lindo, rico e controlador. O embate entre a individualidade da moça e a necessidade de controle de Christian está o tempo todo em evidência.
O que percebo é que esse livro é mais um mecanismo discursivo que busca convencer as mulheres e as subjetivarem a uma vida de subordinação. O amor serve como bandeira que vem antes da existência feminina, não importa se o cara é louco, cheio de complexos, gosta de dominar e de surrar mulheres, o que importa é que ele a ama. Nos últimos tempos parece estar aparecendo uma enxurrada de discursos para convencer as mulheres a voltar ao modelo patriarcal de “sombra de um homem”. Anastácia representa isso, uma jovem em busca de sua própria vida e realização pessoal, mas que é sucumbida por um amor maior do que a própria vida. Apesar de resistir, acaba de certa forma desistindo de sua independência por um homem que pode sustentá-la em uma vida luxuosa e a quem ela deve amor, respeito e obediência. Anastácia não se tornou uma submissa de Christian para as relações sadomasoquistas, mas se tornou a mulher clássica, a mulher em seu estado natural, submissa ao homem não por um contrato, mas pela natureza. No fim das contas Anastácia se torna a senhora Grey, mais uma posse do glorioso Christian, realizada com o seu casamento e com a maternidade, tudo o que uma mulher supostamente poderia querer.
Na minha opinião, esse livro fez tanto sucesso por trabalhar com as maiores ilusões impostas para as mulheres, infelizmente submetidas a discursos que as constituem como donzelas indefesas em busca de um príncipe, muitas mulheres se espelham nessas histórias, alimentam esperanças de um dia terem a “sorte” viverem um amor assim. O casamento, o amor e a maternidade são discursos construídos para a subjetivação feminina, mas ainda são os maiores anseios de muitas mulheres.
Cinquenta tons de Cinza é mais um discurso de subjetivação feminina que ajuda a propagar mulheres inertes, amorosas, dóceis, femininas, fracas e submissas. Gostaria de não escrever mais sobre as formas de subordinação das mulheres, mas infelizmente cada dia que passa estamos mais sujeitas a esses discursos, que parecem querer nos mostrar que nosso destino é esse e que toda luta por uma vida diferente é em vão.

terça-feira, 6 de março de 2012

Entre flores e espinhos: o dia "8 de Março"

A partir desta semana, inúmeras serão as mensagens bonitinhas direcionadas às mulheres em “comemoração” ao dia Internacional da Mulher em 8 de Março. As histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário de que a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Algumas pesquisas dizem não haver comprovação histórica sobre este acontecimento, outras o situam como um acontecimento importante para as lutas feministas ao longo do século XX. A questão fundamental é que ao longo deste século, inúmeras foram às reivindicações e protestos das mulheres, sobretudo as operárias, para melhores condições de vida e de trabalho. Segundo Hobsbawm, as mulheres eram consideradas mão-de-obra barata e trabalhadoras menos rebeldes que os homens, sendo então preferidas pelos donos das fábricas visando maiores lucros. As operárias denunciavam a extensa jornada de trabalho, as condições precárias, os salários medíocres e o trabalho infantil. Em várias datas ocorreram protestos que contribuíram para que ao longo do tempo as questões femininas alcançassem maior visibilidade.
 Mas foi somente em 1945 que a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o "8 de março" foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas. "O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países", explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos Feministas pela Universidade de Brasília e doutoranda em História Cultural pela Universidade de Campinhas.
Atualmente o cunho político do dia 8 de março foi esquecido, virou mesmo uma data fantasiosa de homenagem às mulheres, é comum ver patrões dando florzinhas para suas funcionárias, e em vários locais isso também ocorre. Lembro-me de quando criança, ver as mulheres saindo da padaria com uma rosa vermelha artificial e barata nas mãos, presente pela sua força, e outros variados adjetivos que a nós foram atribuídos.
 Na segunda metade do século XX, com o aumento das mulheres no mercado de trabalho e na educação superior, houve de acordo com Hobsbawn um reflorescimento do movimento feminista, com isso o discurso de libertação feminina se tornou cada vez mais forte. Embora inicialmente entre as mulheres das classes médias intelectualizadas, atualmente este discurso permeia grande parte dos meios sociais. Nós mulheres temos muitas conquistas a serem comemoradas, devemos isso a nossas antecessoras que tiveram coragem de enfrentar o machismo e o pensamento retrógrado dominante que as caracterizaram pejorativamente de mulheres, mal amadas, amargas e feias, ou seja, feministas.
Mas ainda temos muito que conquistar, sobretudo o direito ao domínio da nossa própria vida, do nosso próprio corpo. A violência contra mulheres está em nosso meio como uma praga que sempre existiu, nos silêncios dos lares, guardada por ditados populares e por uma moral vergonhosa. Segundo estatísticas, dez mulheres morrem a cada dia vítimas da violência; a violência doméstica é a maior causa de morte e invalidez de mulheres entre 16 e 44 anos; a cada 15 segundos uma mulher é agredida no Brasil. Assusta-me ver hoje tão perto de mim mulheres da minha idade sendo agredidas, me assusta mais ainda o descaso das próprias famílias, alegando que isso é um problema do casal. Nós mulheres ainda não temos o direito de sair de um relacionamento, sem que em muitos casos sejamos mortas ou agredidas. Ainda não podemos usar qualquer roupa sem sermos tachadas de “vadias”, “vagabundas”, entre outras agressões. Em situações de estupro ou abuso sexual, as causas ainda são procuradas no comportamento das mulheres, com que roupa estava, se facilitou, se estava bêbada. Dias atrás ouvi, que  se uma mulher estiver em uma festa de carnaval, e for abusada sexualmente, ela não deve reclamar, pois estava disponível. Ora, como pode isso? Como não temos o direito de escolher aonde ir? Independente de onde estivermos ou com que roupa estamos homem nenhum tem o direito de nos tocar sem nossa permissão. Queremos o nosso corpo, queremos escolher o que fazemos com ele.
Nós mulheres ainda ganhamos em média até 30% menos do que os homens desenvolvendo as mesmas atividades, ainda fazemos dupla jornada de trabalho, entre a vida profissional e a realidade doméstica. Afinal de contas a masculinidade tão cultuada pelos homens, seu membro fálico que dá sentido a sua vida é tão frágil que não resiste a limpar uma casa, lavar uma roupa, trocar a fralda de um filho sem ser ameaçado de “mulherzinha”. E como ofende chamar um homem de “mulherzinha”, ser mulher ainda é uma condição tão subalterna que é uma ofensa aos homens. A condição de macho é às vezes tão frágil que precisa ser o tempo todo reafirmada, compartilhando fotos de mulheres nuas pela internet pra provar que é  homem, por exemplo.
Se fosse para eu citar detalhe por detalhe da nossa condição, eu teria que escrever um livro. O dia Internacional da Mulher é uma data marcada por lutas, reivindicações, protestos. Em nada se assemelha a essas homenagens quem ninguém sabe explicar o motivo. Por que não existe o dia do homem? Talvez seja porque o mundo sempre esteve em mãos masculinas, homens nunca precisaram lutar para serem reconhecidos como cidadãos, para aparecerem na história, para serem donos do seu próprio nariz. Diante disso, pensemos nesse dia “8 de Março”, qual é o sentindo das comemorações? Por que estão nos dando parabéns? Enfim...ainda não sei o motivo das rosas distribuídas nesta data...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Tema da prova: História social e suas abordagens metodológicas

          José Carlos Reis apresenta uma análise da produção do conhecimento histórico desde o mundo antigo até a pós- modernidade. Nesse intuito, passa pela busca do sentido histórico, da história vista como ciência,ou seja, a cientifização da história do conhecimento histórico em busca do estado positivo da sociedade e vai até a pós-modernidade com a fragmentação da história. Marc Bloch foi um historiador importante neste processo, pois ele inaugura a visão da história como problema, o objetivo da história seriam os homens no tempo e o ofício do historiador estudar o passado buscando entender o presente e vice-versa. Marc Bloch fala sobre a multiplicidade de temas e técnicas e fontes a serem estudadas, as novas abordagens em história. Para José Carlos Reis a terceira geração dos Annales - revista de história fundada por Bloch - radicalizou  a proposta inicial dos fundadores, buscou a história de tudo, ou seja,  todas as relações humanas são possíveis de serem estudadas na história.
A História Social teve seu grande impulso segundo Eric Hobsbawn após a historicização geral das ciências sociais, com o advento das revoluções nos países coloniais e semicoloniais. Para a análise desses fatos em alguns aspectos foi preciso recorrer a História Social. Segundo Hobsbawm as ciências sociais possuíam um arcabouço de técnicas de análise muito úteis, no entanto, não abarcavam a estrutura e o processo de mudança e transformação social, ou seja, o processo histórico. Para este autor a história se serve de muitas das técnicas de outras ciências sociais, mas a relação com as mesmas teria sido mais para ensinar do que para aprender. Para Hobsbawm a história social deve construir seus métodos e modelos próprios,  não se constituindo em uma simples especialização pois seu tema não pode ser dissociado das outras instâncias da vida humana. Eric Hobsbawm é um historiador marxista e defende o processo de análise histórica a partir da abordagem do materialismo histórico. Segundo ele toda a análise da sociedade deveria partir do seu modo de produção. Karl Marx não produziu  história como a conhecemos,  mas deixou questões históricas, observações que são fundamentais para o historiador. Para Hobsbawn a análise histórica partindo da metodologia do materialismo histórico é a única que permite abarcar o social em todos os seus aspectos, sociais, políticos, econômicos e culturais.
Edward Thompson também um historiador importante para fazermos um apanhado da História Social. Analisou a cultura popular inglesa do século XVIII, simultaneamente criticou e deu novo olhar à historiografia marxista. Thompson criticou a relação simplista entre base e superestrutura. Este autor abordou a sociedade inglesa do século XVIII buscando entender os conflitos de classes gerados na passagem do antigo regime à sociedade industrial. O novo modelo econômico tentava se fixar, mas esbarrava nas reivindicações da plebe. Thompson analisou os conflitos de classes entre as classes dominantes e subalternas, mostrando como uma convivia mutuamente  com a outra, havendo trocas culturais. A hegemonia da classe dominante era limitada pelos interesses da plebe. Esta, diante das inovações trazidas pelo processo industrial brigava pela manutenção dos costumes, o que para Thompson era um lugar de mudanças e disputas. Este historiador analisou a cultura popular como local de lutas de classes. E aí fica evidente a posição de Thompson em relação ao reducionismo econômico do marxismo ortodoxo e das visões estruturalistas e funcionalistas da história. No processo de produção social, a luta de classes não possui somente um caráter econômico envolve a luta pelos costumes, e tradições, está inserida na cultura de uma determinada sociedade em um determinado tempo histórico. Em muitos casos a multidão inglesa saía perdendo, mas não sem antes ter havido um processo de luta, que em muitos casos também ambas as classes sociais envolvidas saiam em desvantagem. A renovação do marxismo vista principalmente em Thompson e Hobsbawn é uma das abordagens metodológicas da História Social, alia o materialismo histórico à uma perspectiva mais humanista e culturalista.
José Carlos Reis apresenta o termo história em migalhas, que diz respeito à história fragmentada, com vistas à alteridade, ao individualismo, às pessoas comuns entre outros aspectos. Carlo Ginsburg abordou em sua obra o Queijo e os Vermes a vida de Menocchio, um moleiro friulano, que foi julgado e condenado pela Inquisição. Temos aí então outra abordagem metodológica da História Social que é a micro história. A partir de Menocchio Ginzburg apresentou a partir do termo circularidade cultural  de Mikail Bakhtin, a forma como a cultura das classes dominantes e a cultura das classes subalternas fazem um intercâmbio entre si. Menoccio foi um moleiro que ao ser acusado de herege demonstrou em seu julgamento ter lido e abstraído idéias que Ginzburg associa a de intelectuais daquele tempo no século XVI. Menocchio leu alguns livros e projetou neles uma antiga cultura camponesa, que segundo Ginzburg ainda estava presente naquele momento histórico. Dessa forma Mnocchio utiliza essas duas visões formando sua própria visão criando sua própria cosmogonia.
A História Social é um terreno vasto de pesquisa histórica abordando a vida do homem em sociedade, a partir de variadas abordagens metodológicas, como o marxismo, a renovação do marxismo, a história vista de baixo verificada em Thompson e a micro história como abordada por Ginzburg. Todas essas abordagens convergem para uma análise da sociedade em suas variadas formas de vida e instâncias

sábado, 16 de julho de 2011

Centro Cultural Hermes de Paula: um paraíso cultural esquecido

    Há exatos dezesseis anos minha mãe me levou para fazer minha carteirinha no Centro Cultural Hermes de Paula, em Montes Claros.Aquele pequeno papel que constava minha fotinha de criança abriu um mundo novo em minha frente: o mundo da leitura.Toda sexta-feira era dia de passar no Centro Cultural para devolver e pegar mais livros. Este ritual foi feito por quase dez anos,minha mãe nos iniciou nas visitas ao Centro cultural pois sabia da importância da leitura na vida de uma criança.Desde então adquiri o gosto pela literatura e cheguei a ler quase todos os livros da sessão infanto juvenil. Hoje com vinte e três anos, graduada e cursando Mestrado em História Social na Universidade Estadual de Montes Claros, sei a importância que o Centro    Cultural Hermes de Paula possui em minha formação.
   No período de férias como este mês de julho vou ao Centro Cultural para estudar,pois a ambiente de um biblioteca me inspira em minhas leituras. Sinto uma nostalgia daqueles tempos de infância e adolescência. Lá estão os mesmo móveis,e até os mesmo funcionários. A sensação de estar naquele lugar tão importante em minha vida seria melhor se hoje eu não notasse o abandono daquele mundo mágico de livros. As carteirinhas que são o passaporte para a viagem numa boa literatura, ainda são confeccionadas em máquinas de escrever, os fichários com as referências dos livros ainda são os mesmos. Muitos livros estão em péssimo estado de conservação, apesar do esforço dos funcionários para restaurá-los. É bem verdade que hoje lá se encontra um Centro de Inclusão Digital, mas as melhorias param por aí. Se pararmos para pensar, quantos profissionais que atuam hoje em Montes Claros estudaram ali naquelas mesas de madeira?
   O Centro Cultural Hermes de Paula é sem dúvida alguma, uma das instituições mais importantes de nossa cidade, e deveria ser tratado como tal. Não adianta aqui delegar a responsabilidade somente para a atual gestão, o descaso com o Centro Cultural é uma herança passada de gestão em gestão. Uma "Cidade da arte e da cultura", deveria preservar um reduto da arte,educação e cultura por excelência. 
   Entrar naquele prédio e ver tudo praticamente igual há dezesseis anos atrás quando entrei pela primeira vez trás boas lembranças. No entanto, é preciso olhar para as próximas gerações, que precisam de um estímulo para seguir bons caminhos, geração essa que hoje ao invés de estar dentro do Centro Cultural desfrutando de bons livros, estão, muitos, logo em frente, consumindo drogas à luz do dia na Praça da Matriz. Investir em uma instituição tão importante pode dar a oportunidade de outros jovens serem inspirados e formados como eu futura Mestre em História fui um dia.

 

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Vida acadêmica... Reflexões.

Este ano completa-se cinco anos que estou na Universidade, entrei na graduação em 2006 e em 2011 ingressei no mestrado. Cinco anos acredito eu ser um tempo suficiente para algumas reflexões sobre esse mundo chamado Academia. Vamos começar então pela fase inicial, onde somos chamados de calouros. Nesta fase estamos imersos em certo deslumbre que tem a ver com o imaginário que cerca a academia em geral. Entramos em um mundo completamente novo, ficamos impressionados com os Ms’s e Dr’s que vem à frente do nome dos professores. São tantos nomes e lugares diferentes, departamento disto ou daquilo, ementa, plano de ensino. O curso se tornou minicurso, resumo que já parecia ser simples agora é resumo simples e expandido. Temos ainda o texto completo sem nem mesmo haver o seu oposto o incompleto. Mas enfim, com a capacidade impressionante do ser humano se adaptar às mudanças e novidades, acabamos nos acostumando e estas expressões se tornam auto-explicativas. Passada a fase de calouros, a realidade cai pesada à nossa frente, são tantos textos para ler, são tantos teóricos e pensadores. Informações que absorvemos e que sutilmente desconstroem aquela visão de mundo confortável que tínhamos.  Temos que nos dividir entre muitas disciplinas, monografia, estágio, tudo ao mesmo tempo. Sempre achamos que não vamos dar conta de tudo isso. Agora, já familiarizados com a dinâmica da Universidade ela não parece ser tão mágica como nos tempos de calouros. Somos assombrados pelas lendas que cercam a academia, estamos sempre à espera do próximo período que nos dizem que é o mais difícil, o próximo período sempre será mais difícil. E o que dizer dos professores que viram lendas vivas?Histórias sobre eles se espalham no meio dos acadêmicos, muitas vezes através de sussurros nervosos e do tal “disse me disse”. Mas assusta, e como assusta! Durante todo o processo de graduação abrimos mão de coisas boas de nossas vidas esperando valer a pena no futuro. Sábado, domingo, feriado?O que é isso?Dia de aproveitar para adiantar os trabalhos, pois os dias letivos carregam uma maldição, nunca conseguimos aproveitá-los por completo. Desejamos ansiosamente pelo fim. E ele vem (pra alguns é claro, outros se tornam eternos acadêmicos), lá pelos últimos períodos aquelas inseguranças de calouro já parecem muito bobas. Como não saber a diferença entre resumo e resenha? Quanta bobagem!Começamos a achar que nunca fomos calouros, e calouro passa a ser um “bicho” estranho e por vezes engraçado. Podemos admitir até certa intolerância com eles, advinda da dificuldade e reconhecermos que um dia fomos assim. O último dia do estágio, a defesa da monografia, tira das nossas costas um peso de 200 quilos. E a ansiedade pra saber se o nome consta da lista da colação de grau? Mesmo sabendo que deu tudo certo ela insiste em nos acompanhar. A colação de grau é um momento surreal, vestimos uma roupa desconfortável, e engraçada, até mesmo feia, para encenar o teatro que faz a passagem daquele aluno inseguro para um profissional. De graduando para graduado, agora temos um título! A emoção de receber um canudo vazio (isso mesmo vazio) é indescritível. E aí vem a nostalgia, começamos a achar que nem foi tão difícil assim, a achar graça de nós mesmos, e a sentir saudade desse período de formação. Saudade até mesmo das discussões mais acirradas. E percebemos que na realidade não foi o fim, mas apenas o começo...

terça-feira, 1 de março de 2011

Desconstruindo preconceitos machistas sobre Dilma


Começamos o ano de 2011 com uma situação inédita na História do Brasil, uma mulher assume o posto mais alto da política brasileira: a presidência da República. Já estamos no século XXI, onde muitas mudanças aconteceram e transformaram a sociedade. E hoje após tantas lutas de nós mulheres para ocupar nosso espaço – que sempre foi nosso e não foi dado por ninguém, diga-se de passagem – vemos a Dilma Roussef ainda sofrer preconceitos tolos simplesmente por ser mulher. A sociedade patriarcal não perdoa, então vamos por partes:
1.       Dilma é divorciada, e por isso a rotulam de lésbica. Percebe-se aqui não só o preconceito com as mulheres, mas também com os homossexuais. Ser solteira é uma opção legítima que todas nós temos, não precisamos de um homem para dar significado às nossas vidas. O homem deve ser um companheiro em iguais condições, e não um curinga que legitima nossa existência. E não somos obrigadas a ter esse companheiro, isso é uma opção a que temos direito, pois somos donas das nossas próprias vidas. Dilma é solteira e se valoriza por si mesma. E se ela fosse lésbica? O que tem isso? Qual o problema? Essa também é uma opção, uma opção sexual, não um defeito. Devemos valorizar as pessoas pelo que elas são e não pelo sexo ou opção sexual que possuem.
2.       Dilma é feia. Essa é a acusação mais tola; o que beleza influencia para ser presidente da república? Ah... Mas por que é mulher tem quer ser bonita. É a famosa ditadura da beleza que nos aprisiona em vidas vazias. Temos que ser o que quisermos ser, o que nos faz bem. A beleza física é superficial, a verdadeira beleza só é vista por quem tem uma visão mais ampla do mundo ao seu redor.
3.       Dilma é machona. Dizem que ela é masculina só por que é forte, demonstra segurança em suas decisões, não se intimida no meio de tantos homens. Esse rótulo de machona surge porque somos criadas para sermos mocinhas frágeis, delicadas, e indefesas, incapazes de abrir um pote de azeitona, o que dirá governar nossa própria vida, e menos ainda um país. Essa nossa fragilidade construída socialmente, essa obrigação de submissão já custou a vida de muitas mulheres. Mulheres que não puderam escolher sair de um relacionamento ou não fizeram o jantar na hora certa. A violência doméstica tem números alarmantes, pois frágeis que supostamente somos não temos como nos defender. Ser durona não é defeito meninas e meninos, devemos ter nossas decisões firmes, devemos ser fortes. A delicadeza feminina as vezes nos custa muito caro.
Enfim, devemos desconstruir esses preconceitos tolos, devemos torcer pelo país, buscar formas de melhorar o que estiver ruim. A tarefa da presidenta é governar a República Federativa do Brasil. Não é ser casada, bonita, feminina... Isso tudo não importa. E nós temos o dever de fazermos a nossa parte como cidadãos conscientes, e não de ficar especulando a vida pessoal e íntima dela não é da nossa conta. Temos coisas mais importantes para nos preocuparmos, olhe a sua volta.

Railde Fernandes